…NO FUTURO…O QUE VAI SER…E SE…
Sol em Virgem, Lua em Sagitário, Vênus em Leão, com Ascendente em Peixes. Teoricamente se você entende algo sobre astrologia, é bem provável que tenha traçado o perfil dessa combinação que, no caso, é de quem está escrevendo esse texto. Isso, talvez, influencie você a desistir da leitura ou, caso eu tenha sorte, e a “empatia astrológica” nos acompanhará até o final e, quem sabe, assegurar que estava certo sobre a “leitura” que fez sobre a junção dos astros.
Estamos no meio de 2019, um ano de extremos, de uma sociedade polarizada que se divide em sentimentos e estratégias distintas.
Em meio a esse mundo V.U.C.A — volátil, incerto, complexo e ambíguo — nos sentimos jogados de lá pra cá, perdidos nesse turbilhão caótico, rodeados de incertezas e inseguranças, cheios de perguntas e, quase sempre, sem muitas respostas.
Talvez por isso, o Misticismo tenha se tornando uma tendência que deu seus passos iniciais lá em 2014 e está vivendo seu apogeu agora, em 2019.
Nesse momento, essa tendência é algo que nos faz entender melhor quem nós somos (uma forma de autoconhecimento) e, em muitas vezes, esse Misticismo supre a angustia que temos em querer saber alguma coisa sobre a qual ainda não sabemos.
A ideia abordada aqui sobre o Misticismo está desconectada de qualquer ligação com questões religiosas, dogmas ou crenças. Já passamos por essa fase, para a grande maioria de pessoas de 18 a 40 anos, existe um tema comum: parte delas foram criadas com um conjunto de crenças religiosas — católicas, judias, budistas — mas, quando se tornou adulta, sentiu que a fé não representa completamente quem ela era ou o quê ela acreditava.
Uma coisa é certa, os millennials não são como seus pais ou os pais de seus pais. Eles desafiaram noções tradicionais de tudo, desde religião, profissões e até casamento. E com esse rompimento, eles foram pioneiros em mercados antes impensáveis, como a economia de compartilhamento e o namoro on-line.
A história da astrologia começa há milhares de anos, na Babilônia, onde os primeiros astrólogos estudaram o céu pela primeira vez para prever a ocorrência das estações. Mas foram os romanos que eventualmente nomearam os signos do Zodíaco depois dos 12 ciclos lunares que levaram para o sol retornar à sua posição original.
A astrologia, naquela época, foi uma tentativa inicial de atribuir ordem, ritmo e significado as imprevisibilidades da vida. Uma forma inicial de teoria científica.
A astrologia, é claro, continuou, apesar de sua classificação como uma “pseudo-ciência”, e sua reputação de magia, de misticismo e maluquice. Sua posição, como parte da cultura ocidental popular, começou em 1930, quando um astrólogo chamado R.H. Naylor foi contratado pelo jornal britânico Sunday Express para fazer previsões astrológicas sobre o nascimento da princesa Margaret. A nova popularidade de Naylor fez com que o jornal publicasse uma coluna regular de previsões e conselhos ligados aos signos solares, começando em 1937.
A tendência Mística está crescendo? Quase como uma espécie de religião alternativa. À medida que a agitação social e política torna a religião tradicional menos atraente, os millennials estão buscando novas maneiras de canalizar suas crenças, desencadeando uma onda de “gastos” espirituais.
Um estilo de vida espiritual
As novas gerações moldam o comportamento social geral do nosso entorno e por isso é interessante observar como a geração do milênio substituiu a religião pelo misticismo/esoterismo.
Afinal, é normal que em tempos de incertezas, nos agarremos a tudo aquilo que nos conforta e, embora a religião possa parecer estar em declínio, a fé em si próprio está crescendo.
Um número crescente de jovens — em grande parte, da geração Millennial (embora a tendência se estenda à Gen X — agora com 40 anos, e até à Gen Z) se afastaram da religião tradicional e estão adotando mais crenças e práticas espirituais, como tarô, astrologia, meditação, cura energética e cristais.
Os conceitos de fé podem estar mudando regionalmente, mas uma coisa é certa: as pessoas ainda estarão em busca de algo em que acreditar. Um dos grandes atrativos para as pessoas mais jovens sobre as práticas espirituais é a capacidade de escolher.
As práticas espirituais apelam para o comprometimento dos cuidados: você pode se dedicar um pouco aos cristais, à astrologia, ao tarô…ou muito. Você pode comprar alguns quartzos rosa ou acender algumas velas e, se isso for significativo para você, mantenha-o, se não for, não é como se você tivesse passado por uma conversão religiosa completa que não possa abandonar-los.
Antes da internet, as pessoas que mantinham suas crenças fora do mainstream — fossem elas religiosas, políticas ou outras — careciam de um meio para se conectar umas com as outras. Com as mídias sociais, essas práticas como astrologia, cristais e tarô foram capazes de ocupar espaço em uma conversa pública. Isso favorece á todos. As comunidades de misticismo estão prosperando nas configurações on-line e off-line.
A astrologia, definitivamente, não é nova e a espiritualidade terrena ou viver de acordo com os rituais da Terra também não é novo, é beeeeeeem antigo. Isso só nos mostra como estamos desejando algo que a tecnologia e nem o capitalismo não pode nos dar.
O negócio de misticismo está prosperando.
Por que não procurar respostas no céu? Segundo Platão, “A Astronomia obriga a nossa alma a olhar para cima e nos conduz deste mundo para outro.”
Talvez, essa seja a resposta que faz com que a tendência da astrologia e dos cristais é uma daquelas coisas que, uma vez que você começa a notar, está subitamente em toda parte. Cristal bruto em jóias, decoração e moda inspiradas na astrologia dominam os perfis do Instagram.
Os serviços místicos são um mercado de US $ 2,2 bilhões. E você deve estar se perguntando: Mas a astrologia é um nicho de mercado? Se levarmos em consideração que 40% das mulheres lêem seu horóscopo pelo menos uma vez por mês, somos levados a creer que é um nicho de mercado. Que outra coisa com esse nível de frequência você descreveria como nicho?
A oportunidade de negócio, é claro, requer demanda real, surgindo de algo como uma necessidade real. Então, esta aí algo que a astrologia pode reivindicar.
A astrologia coloca você no centro do seu próprio universo, com a promessa de que você é inteiramente único, como uma impressão digital. Talvez por esse sentimento de ser único, exclusivo, muitos Millennials tenham se identificado com ela.
Segundo o WGSN, em 2019 vemos o crescimento da importância de termos como “auto-cuidado” e “amor próprio”, passamos a aceitar e abraçar nossas imperfeições. Com essa mudança, o corpo humano será a próxima plataforma para a inovação. De 2020 em diante, iremos focar em ser mais humanos do que super-humanos.
Um estudo de 2019 da VICE e do Insight Strategy Group descobriu que 54% dos Millennials e da Gen Z nos EUA e no Reino Unido disse que está procurando conectar-se a marcas que melhorem seu espírito e alma, e 77% procuram comprar de marcas que se alinham com seus valores. A espiritualidade é uma mercadoria crescente e o apetite do jovem consumidor pelo misticismo provocou um aumento nos serviços e produtos ocultos.
A tendência mística está ao nosso redor.
Selfridges (2015) sediou o Astrolounge, uma espaço que levava os consumidores a uma jornada de compras espiritual, guiada pelos signos do zodíaco, além de oferecer uma seleção de produtos e experiências espirituais para incentivar a autodescoberta, como leitura de mãos com The Psychic Sisters e workshops com a celebritie do instagram Ruby Warrington do The Numinous.
Freepeople — incluiu em seu website a venda de cristais das mais diversas formas, de acessórios a pedras para fins de cura.
Urban Outfitters — que não podia ficar para trás, espalhou o misticismo nas diversas categorias tanto nas lojas como no site.
Maria Grazia Chiuri em sua coleção de estréia, à frente da marca francesa Dior (2017), trouxe as passarela vestidos etéreos, delicadamente bordados com desenhos que remetem ao baralho do tarô.
O próprio Christian Dior era fascinado pelo mundo do misticismo. Além de ser viciado em astrologia, o couturier francês, sempre tirava algumas cartas de tarô antes de apresentar as suas coleções magníficas de alta-costura. Não à toa, que o mundo esotérico é uma das maiores fontes de inspiração de Maria Grazia Chiuri, a atual diretora criativa da marca.
Já a Gucci com Alessandro Michele convocou a ilustradora Jayde Fish para criar estampas também inspiradas no tarô para o verão 2017.
Amazon Prime — Os membros do Amazon Prime têm notado um novo recurso de horóscopo que atrela cada signo do zodíaco um tipo de produtos e/ou serviços.
A newsletter Insider da Amazon Prime está enviando horóscopos de compras mensais para seus membros. A empresa mapeia os melhores produtos e os principais benefícios do signo do zodíaco, porque, obviamente, toda a sua espiritualidade precisa estar alinhada com o consumo.
Em março de 2019, Bri Luna (Hoodwitch) fez uma parceria com a Smashbox Cosmetics para co-criar uma nova coleção inspirada no poder dos cristais, nasce uma coleção destinada a manifestar criatividade através de maquiagem e mantras. A colaboração soou autêntica para os Millennials, já que Luna havia expressado seu amor pela marca nas mídias sociais. Segundo a revista Dazed, a marca de beleza entrou em contato com a Luna via Instagram para propor a parceria.
Spotify — podemos encontrar playlists cósmicas para cada signo do zodíaco.
Essa tendência também inspirou uma série de novas startups e serviços que atendem aos millennials ansiosos por alguma orientação e aconselhamento. É por isso que existem caixas de assinatura de cristal, banhos, aromaterapia e afins, dos chamados “consultores de negócios intuitivos”. As startups estão tornando essas práticas mais fáceis e rápidas, centralizando-as em plataformas eficientes.
Enquanto isso no Instagram
Desde Suzan Miller Astrology Zone até The Numinous, passando por terras brasilis temos as astrostarts Madama Brona, Papisa, entre tantos outros perfis que trazem a astrologia, o tarô e todo misticismo para o nosso dia a dia.
Por sorte a nova era da astrologia milenar não é totalmente séria. Vide os memes:
Por trás desse movimento está o anseio profundo que muitas pessoas sentem por um senso de orientação. No novo movimento místico, as mulheres do milênio se referem a si mesmas como “bruxas” e se consideram parte de um movimento feminista. Paralelamente ao aspecto político do movimento místico, há também um conceito contrário às religiões organizadas; uma nova espiritualidade comercial — de certa forma, a modernização do esoterismo.
Os sinais para isso já foram observados há muito tempo. Nos últimos anos, o festival hippie Burning Man se pôs de moda, enquanto o ritual de transcendência com a Ayahuasca está crescendo em sua popularidade, e ganhando cada vez mais adeptos.
A pergunta que fica é se essa tendência terá um impacto duradouro no acesso à espiritualidade ou será categorizada como um fenômeno de estilo de vida.